30 de outubro de 2008

Ceci n'est pas un post humoureux

Há duas noites a minha amiga Eva ligou-me num pranto desgraçado. Tinha acordado a meio da noite a sentir falta de ar e o coração a bater disparado e desatou a chorar porque se estava a sentir mal e achava que ia cair para o lado ou qualquer coisa parecida.
Eram 3 da manhã e eu lá chamei um táxi e fui ter com ela.
Quando cheguei falámos e ela acalmou-se e adormeceu. No dia seguinte disse-me:
- A merda toda foi estar sozinha! Sabia lá o que é que me podia passar pela cabeça...até me podia atirar pela janela que não havia ninguém para me agarrar.
Então o problema era a solidão. Este não é um post engraçado portanto, meus queridos, quem não estiver para aí virado pare por aqui e volte na próxima semana.
A Miss Peach não é uma mulher obcecada com o lado negro da vida mas ele está lá e convém pensar nele antes que ele decida aparecer sem aviso: o que é que assusta na solidão? Não estou a falar de pessoas doentes e que não têm quem as assista em caso de emergência mas sim, o que é exactamente que assusta uma pessoa saudável de 20 ou 30 anos ao perceber que está só?
Não há nada na Eva que acuse a solidão mas o facto é que ela acorda às 3 da manhã a sentir que vai morrer e que tudo aquilo que planeia fazer um dia nunca vai ser concretizado. E depois o medo da loucura e do sufoco e, enfim, da falta de controlo.
Então já são três problemas: a solidão, a ambição e a necessidade de controlo. É muita fruta para uma menina só. Mas eventualmente aprendemos que isso faz parte daquilo que somos e compreendemos que, no fundo, não nos vamos atirar da janela porque é bom estar por cá e acordar e cheirar o café acabadinho de fazer.
Quando acordei preparei o pequeno-almoço à minha querida Eva: fui comprar pão quentinho, fiz um sumo de frutas e pus a fazer um café bem cheiroso e saboroso. E antes de me ir embora dei-lhe um beijo na testa só para que ela percebesse que na verdade não está sozinha.

[Conselho da Miss Peach]: rapazes, uma das dicas que vos posso dar para entenderem melhor as mulheres é que nós não sabemos muito bem fazer as coisas passo-a-passo. É suposto sermos bonitas, elegantes, naturais, inteligentes, ginasticadas, boas profissionais, amigas, mães; é suposto provocarmos espanto e deleite com a nossa graciosidade e isto onde quer que vamos e com quem quer que conheçamos. E é suposto sermos isto tudo “para ontem”.
Não é fácil e chateia-nos a cabeça e nós, para nos vingarmos, chateamo-vos a cabeça a vocês. Get it?

13 de outubro de 2008

Lugar às Divas

Parte I
Separei-me do G. Não foi nada de outro mundo, já nenhum de nós estava a tirar grande prazer daquela relação e resolvemos afastar-nos antes que a coisa desse para o torto. Não foi assim muito dramático, coisa que lamento. Mas enfim... assim sempre podemos ficar “amiguinhos”.
Só se pode ficar mesmo “amiguinha” de um homem que não nos marcou assim muito, não concordam? Nunca me passaria pela cabeça ficar “amiguinha” de um homem por quem me tenha apaixonado perdidamente! Só de imaginar ter de fingir que estou interessada nas histórias dele com outras mulheres, só de imaginar ter de disfarçar os ciúmes, a posse, os resíduos de paixao...bah! É hipocrisia a mais para a cabecinha delicada da Miss Peach.
Bom, mas entretanto esta tem sido uma semana ocupada. Ontem à noite o meu amigo Vasquinho convidou-me para jantar e nenhum de nós queria ir para casa a seguir; então lembrámo-nos de um evento muito badalado: o “Lugar às Novas”, a noite de travestis amadores do bar Finalmente. Confesso que não sou grande adepta da noite gay lisboeta mas há qualquer coisa que me fascina nos travestis: no fundo são divas, são o revivalismo das estrelas femininas de outras épocas, dramáticas e exuberantes. E além disso eu e o Vasquinho já tínhamos tido a nossa conta de Piña Coladas (sim, o Vasquinho é gay; faz parte de ser gay beber Piña Coladas) e achámos óptima ideia ir espalhar-brasas para um bar onde as brasas estão constantemente acesas.
Lá chegámos. Todas as cabeças se viraram na nossa direcção. Éramos carne fresca mas também não perdemos muito tempo a preocupar-nos com isso. Até porque o Vasquinho é um músico relativamente conhecido e é natural que algumas cabeças se virem quando ele passa.
V.: - Ok estou a pensar que talvez não devêssemos ter vindo aqui.
M.P.: - Deves achar que lá porque és artista não podes ir a lado nenhum que te arrancam um bocado...
V: - Não é isso estúpida! É que já estou a ver gente conhecida..
M.P.- Onde?
V.: - Aquele de camisola branca encostado ao bar. É fotógrafo de uma revista cultural. Já me fotografou para um artigo.
M.P.: - E então? Não sabe que és gay?
V: - Sabe, claro. Mas estes gajos aproveitam qualquer coisinha para fazer fofoca. É melhor ir cumprimentá-lo para ele saber que o vi... Qualquer coisa, já sei que foi ele.
E lá foi ele. Fiquei encostada ao bar a divagar que ser famoso dá trabalho e requer engenho manhoso.
Nunca tinha estado naquele bar e fui aproveitando para estudar a fauna; não que me interessasse - uma vez que os homens que lá estavam jogavam para outra equipa e as meninas queriam jogar na minha (e eu quero deixá-las todas no banco) – mas é sempre uma experiência nova.
V.: - Pronto, já está.
M.P.: - Já está?! O engate mais rápido da História!
V.:- Não! Já lhe falei e ele está aqui pra fazer um artigo sobre o Lugar às Novas. Além disso deve ser gay, não tenho de me preocupar com a fofoca.

[Conselho da Miss Peach]: Meninas, se tiverem um grande amigo gay tenham em consideração que eles partem do princípio que todos os homens são homossexuais ou para lá caminham. Ou estão dentro do armário e não querem sair, ou estão dentro do armário à espera que um garanhão os arranque de lá e os resgate de uma vida de fachada heterossexual. Basicamente, não lhes apresentem os vossos namorados.
(continua no próximo post...)

*

Ciara Chanel


Parte II
Voltei, queridos leitores, para a segunda parte da minha noite de ontem. Não quero que cansem a vossa delicada concentração com tanta narrativa.
Bom, escusado será dizer que o tal fotógrafo era uma brasa e eu, uma vez mais, lamentei a perda de um homem bonito para a outra equipa.
No entretanto da coisa, sobe um travesti ao palco e, depois de pedir um aplauso para a “diva” que tinha acabado de actuar, chama a atenção para o facto de haver uma celebridade na casa. Era o Vasquinho. Desatei a rir e gritei à diva Ciara Chanel que chamasse o Vasquinho a palco para ele cantar um dos seus famoso singles. Nesse momento, Ciara Chanel lançou um salto olímpico do palco para o meio da plateia e veio histericamente raptar o meu amigo enquanto gesticulava e gritava “Deixa passar, melhér! Não vês que ele é artista?!”.
Dei por mim então sozinha num meio desconhecido e fiz aquilo que todas as pessoas fazem em situações semelhantes: acendi um cigarro. Rapidamente apareceu uma querida que fez o favor de me informar da proibição de fumar no estabelecimento; e não só:
Querida: - Mas em minha casa podes fumar à vontade. E aposto que as tuas cuequinhas ficam a matar espalhadas no chão do meu quarto.
A Miss Peach gosta de se sentir apreciada mas não é grande fã de se sentir assediada. E foi sem querer que a minha bebida foi acidentalmente parar à cara dela.
Afastei-me para outro canto do bar enquanto assistia ao breve espectáculo do Vasquinho e pedi outra bebida.
Amigo Fotógrafo (A.F.): - Há noites assim.
M.P.: - Só se fôr no seu mundo.
A.F.: - Há mundos que se cruzam...
M.P.: - Pois...realmente há muita coisa!
*O que é que este tanso quereria?*
A.F.:- Veio com o Vasco Bettencourt?
M.P: - Sim, sou o guarda-costas dele.
*Era uma piada mas ele não se riu. Acho que acreditou.*
- Não lhe pode tirar fotografias, espero que saiba, senão vamos ter um problema.
*Era a continuação da piada. Ele continuou com aquela expressão “loira-no-parlamento”, ou seja, vazia*
O Vasquinho saiu de palco com grandes aplausos e gritos histéricos: “És linda, melhér!”, “Junta-te às manas para parecermos muitas!”. Veio ter comigo com vontade de me assassinar brutalmente mas conteve-se quando viu que eu estava a conversar com o fotógrafo. Despedimo-nos dele e saímos do bar.
Comentei com o Vasco a troca de palavras que tinha tido com o A.F. e que nunca diria que ele era gay.
V.: - E ele deve estar a pensar exactamente o mesmo de ti, sua fufa camiona! E é bem-feita; quem anda à chuva molha-se.
M.P.: - Mas achas que ele pensa que eu sou lésbica?
V. : Espero que tenha a certeza!! Não fosses pseudo-cosmopolita e não andasses a passear pela noite gay.
M.P.: - Bicha invejosa.
Nisto um rapaz chama o Vasquinho. Não o reconhecemos logo; era Ciara Chanel na sua versão natural: Sérgio Duarte, um trintão bem-parecido que queria dar os parabéns ao Vasquinho pelo seu à-vontade e aproveitou a deixa para o convidar para a sua festa de aniversário na sexta-feira seguinte. O Vasquinho disse que talvez aparecesse (right...não me quer parecer!). A ver vamos...
Voltei para casa e dei por mim sem sono com qualquer coisa a deixar-me desconfortável. Acendi um cigarro à janela e percebi que o que me estava a tirar o sono era o recente mal-entendido de orientações sexuais com o tal fotógrafo. Seria assim tão complicado para mim que um homem que eu não conheço de lado nenhum me considerasse gay? Não era bem isso porque isso não é, de facto, importante para mim. O problema era AQUELE homem poder pensar que a bola dele não pode jogar no meu campo.
Ai, o Drama! Tão bom e aconchegante que ele é. Apaguei o cigarro e fui dormir.
*

6 de outubro de 2008

Chuva

Ontem choveu a tarde toda. Estava em minha casa com o G. e lembrei-me que podíamos sempre passar a tarde embrulhados em sexo escaldante. Mas infelizmente ainda eram quatro da tarde e o “sexo escaldante” não demoraria mais que duas horas (com os devidos 30 minutos de benevolência) portanto pensei que ia render mais começar uma discussão feroz de cerca de uma hora para depois usufruir das tais duas horas de sexo de reconciliação. Feitas as contas, quando acabássemos seriam já 19h e a contar com banhos, etc, podíamos começar a preparar o jantar às 20h.
A Miss Peach tem todas as actividades bem agendadas e tem, regra geral, muito boas ideias. Esta não foi excepção e tudo correu como esperado.
É uma arte delicada iniciar uma discussão com um homem. Geralmente os homens não são grandes apreciadores de Drama (uma palavra muito querida à Miss Peach, quero que o saibam desde já) logo é necessário não só saber exactamente qual o tema a puxar como também fazê-lo de modo rápido, seco e com um certo ar descontraído.

[Conselho da Miss Peach] quando quiserem provocar um homem, não lancem a primeira farpa enraivecidas. Façam-no com aquela displicência de quem está apenas a constatar um facto. Por ex: “engraçado, só reparei agora que estás a perder cabelo aí do lado esquerdo...sim, essa entrada aí, é enorme!” ou “não, não te preocupes! É só que ainda estou habituada ao meu ex-namorado...tinha de o segurar com as duas mãos”.]

Não me interpretem mal, eu sou romântica. Só que às vezes entretém chatear os homens e fazê-los dar murros na parede só para não nos apertarem o pescoço. Mas só naqueles domingos em que chove a tarde toda.