Parte I
Separei-me do G. Não foi nada de outro mundo, já nenhum de nós estava a tirar grande prazer daquela relação e resolvemos afastar-nos antes que a coisa desse para o torto. Não foi assim muito dramático, coisa que lamento. Mas enfim... assim sempre podemos ficar “amiguinhos”.
Só se pode ficar mesmo “amiguinha” de um homem que não nos marcou assim muito, não concordam? Nunca me passaria pela cabeça ficar “amiguinha” de um homem por quem me tenha apaixonado perdidamente! Só de imaginar ter de fingir que estou interessada nas histórias dele com outras mulheres, só de imaginar ter de disfarçar os ciúmes, a posse, os resíduos de paixao...bah! É hipocrisia a mais para a cabecinha delicada da Miss Peach.
Bom, mas entretanto esta tem sido uma semana ocupada. Ontem à noite o meu amigo Vasquinho convidou-me para jantar e nenhum de nós queria ir para casa a seguir; então lembrámo-nos de um evento muito badalado: o “Lugar às Novas”, a noite de travestis amadores do bar Finalmente. Confesso que não sou grande adepta da noite gay lisboeta mas há qualquer coisa que me fascina nos travestis: no fundo são divas, são o revivalismo das estrelas femininas de outras épocas, dramáticas e exuberantes. E além disso eu e o Vasquinho já tínhamos tido a nossa conta de Piña Coladas (sim, o Vasquinho é gay; faz parte de ser gay beber Piña Coladas) e achámos óptima ideia ir espalhar-brasas para um bar onde as brasas estão constantemente acesas.
Lá chegámos. Todas as cabeças se viraram na nossa direcção. Éramos carne fresca mas também não perdemos muito tempo a preocupar-nos com isso. Até porque o Vasquinho é um músico relativamente conhecido e é natural que algumas cabeças se virem quando ele passa.
V.: - Ok estou a pensar que talvez não devêssemos ter vindo aqui.
M.P.: - Deves achar que lá porque és artista não podes ir a lado nenhum que te arrancam um bocado...
V: - Não é isso estúpida! É que já estou a ver gente conhecida..
M.P.- Onde?
V.: - Aquele de camisola branca encostado ao bar. É fotógrafo de uma revista cultural. Já me fotografou para um artigo.
M.P.: - E então? Não sabe que és gay?
V: - Sabe, claro. Mas estes gajos aproveitam qualquer coisinha para fazer fofoca. É melhor ir cumprimentá-lo para ele saber que o vi... Qualquer coisa, já sei que foi ele.
E lá foi ele. Fiquei encostada ao bar a divagar que ser famoso dá trabalho e requer engenho manhoso.
Nunca tinha estado naquele bar e fui aproveitando para estudar a fauna; não que me interessasse - uma vez que os homens que lá estavam jogavam para outra equipa e as meninas queriam jogar na minha (e eu quero deixá-las todas no banco) – mas é sempre uma experiência nova.
V.: - Pronto, já está.
M.P.: - Já está?! O engate mais rápido da História!
V.:- Não! Já lhe falei e ele está aqui pra fazer um artigo sobre o Lugar às Novas. Além disso deve ser gay, não tenho de me preocupar com a fofoca.
[Conselho da Miss Peach]: Meninas, se tiverem um grande amigo gay tenham em consideração que eles partem do princípio que todos os homens são homossexuais ou para lá caminham. Ou estão dentro do armário e não querem sair, ou estão dentro do armário à espera que um garanhão os arranque de lá e os resgate de uma vida de fachada heterossexual. Basicamente, não lhes apresentem os vossos namorados.
(continua no próximo post...)
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